Sou uma pessoa introspectiva. Prefiro ouvir a falar. Gosto de preparar com calma o que tenho a dizer. Por isso, quando decidi embarcar em uma turnê de palestras pela Europa com dois objetivos:
eu sabia que estaria saindo, e muito, da minha zona de conforto. Mas valeu muito a pena!
Foram seis cidades: Opatija na Crácia, Colônia na Alemanha, Porto em Portugal e Valência, Barcelona e Madri na Espanha. Em cada uma delas, conversei com dezenas de profissionais de produto em meetups, conferências e conversas de corredor.
Cada contexto tinha suas particularidades, mas a hipótese que queria (in)validar ia se confirmando com força a cada interação: os desafios em gestão e desenvolvimento de produto são incrivelmente semelhantes.
Pode mudar a língua, o segmento da empresa ou o nível de maturidade digital, mas os dilemas centrais são os mesmos:
Durante os eventos, algumas perguntas apareciam com frequência. Compartilho aqui duas delas e as respostas que tenho dado.
Minha empresa é B2B e não podemos lançar rápido e passar vergonha com a nossa base de clientes. O que fazer?
Essa é uma preocupação legítima. Afinal, levamos anos para conquistar a confiança das clientes. Não podemos lançar um produto “meia-boca”, nossas clientes esperam e exigem o melhor de nós e de nossos produtos.
Para esse cenário, minha recomendação é começar pequeno. O exemplo do Gympass Wellness ilustra isso muito bem. Em 2019, quando estávamos fazendo piloto do Gympass Wellness, que nada mais era que uma landing page com um formulário, selecionamos de nossa base de 2.000 clientes na época, 10 clientes, 5 no Brasil e 5 nos EUA, com um total de 15.000 funcionários, para testarmos essa nossa primeira versão de produto. Escolhemos “passar vergonha” com apenas 0,5% da nossa base, e não com a base inteira de clientes.
Não se trata de lançar qualquer coisa para toda a base, mas sim de identificar um grupo de 5 a 10 clientes mais inovadores, mais próximos, que topem experimentar junto. É com eles que se aprende. É com eles que se valida. O risco de não testar cedo é construir algo grande… e errado.
Entendo e concordo com os princípios de uma cultura de produto forte, mas não consigo mudar a cultura na minha empresa.
Essa é, talvez, a pergunta mais difícil. E minha resposta costuma ser direta: não se muda cultura por decreto. Cultura se muda com resultado. Já escrevi sobre isso nesse artigo, mas reforço aqui o ponto central: a empresa não se importa com MVP, discovery, fail fast, tribos, squads, ou qualquer outro jargão de produto. A linguagem que a empresa entende é a dos resultados. Por isso, a estratégia é entregar resultado, apresentar esse resultado e depois contar como esse resultado foi atingido.
Um exemplo desse approach é o caso do “MVP” do app do corretor da Lopes. Coloco o MVP entre aspas pois, quando cheguei na Lopes, esse app estava em desenvolvimento há 7 meses, tendo antes 5 meses de discovery. Ou seja, 1 ano para fazer um “MVP”. O principal problema a ser resolvido era levar o lead na mão da corretora o mais rápido possível, pois isso aumentava as chances de o lead virar eventualmente uma compra de imóvel. Surgiu então a ideia de fazer um app com push notification. Enquanto estávamos conversando sobre esse “MVP” que estava sendo desenvolvido, percebemos que talvez não precisássemos ter feito um app. Uma notificação via WhatsApp ou SMS seria suficiente. E foi o que fizemos. Em 10 dias tínhamos a notificação via SMS funcionando. De 1 ano esperando o “MVP” para 10 dias! Aqui ganhamos um exemplo muito potente de entrega de resultado rápido usando os princípios de cultura de produto. Tanto foi assim que, nas próximas vezes que vinha um pedido de implementação de alguma funcionalidade, perguntávamos qual o problema a ser resolvido, para podermos ter autonomia para pensar em outras soluções e, eventualmente, chegar a soluções mais rápidas e baratas de serem implementadas.
Essas perguntas mostram que realmente os desafios de desenvolvimento e gestão de produtos são mesmo globais. Voltei para o Brasil com a certeza de que, quando o assunto é cultura de produto, ouvir com atenção e falar com intenção ainda são as ferramentas mais poderosas que temos.
Aproveito esse artigo para deixar aqui meus agradecimentos a quem tornou essa jornada possível:
Se você é uma pessoa de produto brasileira trabalhando em uma empresa no exterior, quero aproveitar essa constatação de que os desafios são globais para fazer uma oferta especial: por tempo limitado, estou oferecendo a talk “4 Principles of a Strong Product Culture” como uma sessão remota in-company, sem custo. É uma forma de apoiar outras pessoas brasileiras que estão construindo cultura de produto fora do Brasil e, em troca, ajudar o tema a ganhar mais visibilidade em novos mercados. Se tiver interesse, me mande uma mensagem e combinamos os próximos passos.
Que essa conversa continue, nos meetups, nas empresas, nos times. Porque cultura de produto forte se constrói todos os dias, com cada resultado gerado utilizando os princípios de uma cultura de produto forte.
Ajudo líderes de produto (CPOs, heads de produtos, CTOs, CEOs, tech founders, heads de transformação digital) a enfrentarem seus desafios e oportunidades de produtos digitais por meio de treinamentos e consultoria em gestão de produtos e transformação digital.
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