
Cada vez mais empresas brasileiras têm tido a oportunidade de explorar mercados fora do Brasil. Para isso, é preciso internacionalizar os produtos digitais.
O primeiro aspecto em que pensamos quando surge a necessidade de internacionalização é o idioma. O português já é um idioma com acentos, o que facilita escrevermos em outros idiomas com acentuação, mas, quando pensamos em outros caracteres, como os japoneses ou os árabes, teremos que fazer ajustes em nossa arquitetura de interface. Idiomas diferentes afetam diretamente o tamanho das mensagens e dos prompts, o que impacta o design. Algo dito com duas palavras de quatro letras cada em inglês pode precisar de quatro palavras de sete letras em alemão. Além da questão visual, é muito importante que uma pessoa local revise. Traduções automáticas ou feitas por não nativos correm o risco de não levar em conta questões culturais ou mesmo qual é a palavra mais comumente utilizada.
Lembro de uma vez no Gympass em que, no Brasil, usamos a revisão de uma pessoa americana que morava aqui há anos para traduzir uma funcionalidade que estávamos prestes a lançar. Depois da revisão, publicamos a funcionalidade. Pouco depois, recebemos o seguinte feedback de uma funcionária americana que trabalhava no nosso escritório em Nova Iorque: “Olha, a tradução está boa, está gramaticalmente correta, mas a gente não fala mais assim.”
A língua é viva e evolui com o tempo. Uma pessoa nativa, mas que não mora no país há alguns anos, pode acabar não acompanhando essa evolução.
O segundo aspecto a ser considerado na internacionalização é o billing e o payment: como os clientes serão cobrados e como vão pagar. Esse é um tema que pode gerar uma boa complexidade de implementação. Minha recomendação é utilizar provedores globais de billing e payment como Adyen, Stripe ou PayPal.
Além do idioma, da interface, do billing e do payment, há outros aspectos que devem ser analisados ao planejar uma internacionalização: o tema do produto. Para produtos B2B ou B2C relacionados a um determinado tema, podem haver outros aspectos locais a serem considerados. Pense em ERPs, sistemas para restaurantes, sistemas de relacionamento médico-paciente etc.
No Gympass, inicialmente o Brasil era o maior mercado, então o foco era desenvolver para o Brasil e adaptar para outros países. Em relação a billing e payment, optamos pelo Adyen como provedor global. No final de 2018, tivemos que começar a nos preocupar com o GDPR, pois, apesar de ser um tema distante no Brasil e nos EUA, já era muito forte na Europa. Tivemos, então, que mudar o foco de parte do time. No final de 2019, percebemos que precisávamos, mais uma vez, mudar o foco. EUA eram o principal mercado que queríamos conquistar. Por esse motivo, mudamos o foco do time de desenvolvimento de produto para desenvolver primeiro para os EUA e, depois, adaptar para os outros países.
Hoje em dia, minha recomendação é ter um pequeno time local sênior, capaz de entender e atender às necessidades locais. Esse time deve ter 1 ou 2 pessoas da “matriz”, para o entendimento do negócio e a interação com a “matriz”. No Gympass, motamos um time em Nova Iorque, com foco no mercado americano, e outro em Lisboa, com foco no mercado europeu.
Aqui, estou falando sobre o que considerar ao planejar o funcionamento do seu produto em diferentes países. Porém, construir o produto para funcionar em outro país é apenas uma peça do quebra-cabeça, muito importante, mas ainda assim só uma peça. Além de adaptar o produto para um novo mercado, também precisamos pensar na estratégia de go-to-market de cada país e em como vamos operar o produto localmente. No Gympass, cada lançamento em um novo país exigia mudar uma pessoa sênior para aquele país para iniciar a operação, contratar um time, fazer parcerias com academias e, depois, vender o produto para empresas. E, à medida que conquistávamos novos parceiros e clientes, esse time se tornava responsável por toda a operação local.
Esse artigo é mais um trecho do meu livro mais recente “Transformação digital e cultura de produto: Como colocar a tecnologia no centro da estratégia da sua empresa“, que vou também disponibilizar aqui no blog. Até o momento, já publiquei por aqui:
Ajudo empresas e lideranças (CPOs, heads de produto, CTOs, CEOs, tech founders e heads de transformação digital) a conectar negócios e tecnologia por meio de treinamentos e consultoria focados em gestão de produtos e transformação digital.
Na Gyaco, acreditamos no poder das conversas para promover reflexão e aprendizado. Por isso, temos três podcasts que exploram o universo de gestão de produtos por ângulos diferentes:
Você trabalha com produtos digitais? Quer aumentar as chances de sucesso do seu produto, resolver os problemas das usuárias e atingir os objetivos da empresa? Conheça meus livros, onde compartilho o que aprendi ao longo de mais de 30 anos criando e gerenciando produtos digitais:
