Essa é uma das perguntas mais frequentes quando falamos de discovery: quanto tempo devo dedicar? Dias? Semanas? Meses?
A resposta curta é um paradoxo! Devemos dedicar o mínimo de tempo possível e, ao mesmo tempo, fazer discovery o tempo todo.
Na Cultura de Produto, temos os princípios das entregas rápidas e frequentes e de entrega de resultado. Não faz sentido passar meses em análises antes de colocar algo nas mãos da cliente. Discovery não é sobre buscar certeza absoluta, porque isso não existe, mas sobre reduzir riscos antes de investir pesado.
Por isso, use a caixa de ferramentas de discovery para responder perguntas específicas:
O problema existe?
A solução proposta é viável?
Existe valor suficiente para a cliente e para o negócio?
Quando tiver sinais suficientes para seguir, pare e entregue. O valor está em aprender rápido e agir, não em prolongar investigações.
E os riscos devem ser priorizados!
Em outubro de 2019, quando eu liderava a gestão de produtos no Gympass, decidimos trabalhar em uma ideia chamada “hub de parcerias do usuário final Gympass”. O plano era fazer parceria com aplicativos de bem-estar e fornecê-los aos nossos usuários.
Essa nova ideia tinha duas hipóteses principais que precisávamos testar:
Disposição para parceria dos fornecedores. Eles estavam acostumados com o modelo de receita mensal recorrente. Aceitariam ser pagos por dia de uso?
Disposição de pagar da nossa base de usuários. Estariam dispostos a pagar uma mensalidade para acessar esses aplicativos?
Para testar a primeira hipótese, construímos um deck de slides com a proposta de valor e conversamos com parceiros em potencial. Apresentamos a ideia a 8 empresas, 6 mostraram interesse e 4 toparam participar.
Primeira hipótese validada. Agora, a segunda: os usuários pagariam? Para testar, criamos um formulário simples descrevendo o produto e pedindo nome, e-mail e empresa. Depois, levávamos para uma página de assinatura no PayPal. Não havia produto real, só uma simulação para medir intenção. Quem se inscrevia recebia um e-mail com links de ativação dos apps.
Esse discovery nos permitiu criar o Gympass Wellness, produto essencial durante a pandemia. Quando os funcionários das clientes foram para casa, seus RHs pensaram em cancelar o contrato. Passamos a oferecer o Wellness como solução perfeita: atividade física, nutrição, meditação e bem-estar mental sem sair de casa!
Perceba que não testamos tudo de uma vez. Primeiro validamos se haveria parceiros. Se não houvesse, não adiantaria testar disposição de pagar dos usuários.
Ao mesmo tempo, discovery é uma mentalidade.
Um time orientado a produto vive em modo discovery o tempo todo. Observando como a cliente usa o produto, analisando dados, acompanhando o mercado, questionando hipóteses.
Não significa entrevistas intermináveis, mas manter uma postura constante de curiosidade:
Por que essa métrica mudou?
O que essa reclamação revela?
Que comportamento emergente está aparecendo?
Essa pessoa parece uma potencial usuária. O que posso perguntar?
Essa atenção contínua mantém o produto evoluindo sem depender de grandes “projetos de discovery” que atrasam a entrega.
Claro que isso é mais fácil com produtos B2C de grande alcance, mas o que importa é a mentalidade: estar sempre curioso para aprender mais sobre a cliente, o problema, o contexto e a motivação para resolvê-lo.
Postei uma foto de uma talk que dei para um time de uma cliente européia. Dias depois, o brasileiro que me convidou pediu para tirar a imagem por solicitação do jurídico. Coloquei meu chapéu de discovery: por quê? Era uma preocupação com GDPR, a LGPD européia, algo que vivi de perto no Gympass entre 2018 e 2020. Descobri nuances: empresas alemãs têm muito menos flexibilidade que portuguesas, em relação à GDPR. A preocupação com dados pessoais vem do contexto da Segunda Guerra, quando os nazistas utilizaram toda a base de dados da população (nome, religião, endereço, etc.) para perseguirem os judeus. Foi um insight cultural valioso, gerado por curiosidade.
Então, quanto tempo você deve dedicar a discovery?
Assim como a cultura de produto, discovery não é um processo com começo, meio e fim. É uma prática constante!
Ajudo empresas e lideranças (CPOs, heads de produto, CTOs, CEOs, tech founders e heads de transformação digital) a conectar negócios e tecnologia por meio de treinamentos e consultoria focadas em gestão de produtos e transformação digital.
Você trabalha com produtos digitais? Quer aumentar as chances de sucesso do seu produto, resolver os problemas dos usuários e atingir os objetivos da empresa? Conheça meus livros, onde compartilho o que aprendi ao longo de mais de 30 anos criando e gerenciando produtos digitais: