Em muitos times de produto, a expressão “North Star” virou sinônimo de métrica. Aquela métrica única que representa valor gerado para o cliente e crescimento para o negócio, e que ajuda o time a manter o foco no que realmente importa.
Nada contra. A métrica North Star tem seu valor. Mas existe um problema: quando confundimos a estrela guia com o velocímetro. Métrica é instrumento. Visão é direção.
A verdadeira North Star de um produto não é um número. É um destino. Uma imagem clara de futuro desejado, que orienta decisões, dá sentido ao trabalho e inspira as pessoas mesmo quando o caminho ainda é incerto.
Métrica serve para saber se estamos indo rápido. Visão serve para saber para onde estamos indo — e por que.
Visão de produto é uma ideia que aponta para frente. Uma declaração clara do impacto que queremos causar no mundo. Para quem, com que mudança, e em que escala.
Sem visão, a métrica pode ser otimizada no vazio. O time entrega rápido, mas não sabe se está indo na direção certa. A equipe até cresce, mas sem propósito. O produto melhora, mas sem clareza de a serviço de quê.
Visão vem antes. A North Star metric só faz sentido depois que temos clareza sobre qual é a nossa estrela guia de verdade.
A ideia de visão como destino não é nova. E não pertence só ao mundo dos produtos digitais. Ela está presente em momentos históricos que moveram pessoas e organizações inteiras.
Quando John Lennon escreveu Imagine, ele não estava propondo uma política pública nem um roadmap, muito menos uma métrica para seguirmos. Ele estava pintando um futuro possível, desafiador e quase utópico, que convida à reflexão e à ação. Uma visão que atravessa gerações.
Quando o presidente Kennedy anunciou, em 1961, que os Estados Unidos colocariam um homem na Lua antes do fim da década, ele não estava falando de foguetes nem de tecnologia. Estava oferecendo uma visão de nação, de ousadia, de superação coletiva. Uma visão tão clara que mobilizou milhares de pessoas a resolver problemas que ainda nem existiam.
Essas visões funcionam porque apontam para algo maior. Porque geram senso de propósito. Porque não dizem “como”, mas dizem “para quê”.
Tudo.
Um produto digital sem visão é apenas um agrupamento de funcionalidades. Um time de produto sem visão corre o risco de ser eficiente no irrelevante.
Uma visão clara, por outro lado, transforma:
a priorização, já que sabemos o que realmente importa;
a capacidade de dizer não, evitando distrações;
a escolha da métrica certa, ao invés da métrica mais fácil de medir.
É a visão que conecta o trabalho diário à mudança que queremos causar no mundo. Transforma um time operacional num time estratégico.
Do site da Gyaco, destaco algumas definições que mostram essa clareza em ação:
“Ajudar facilitadores do mundo todo a terem melhores interações em grupo.”
Uma frase simples, mas poderosa: tem público claro (facilitadores), ambição global (do mundo todo), e foco em impacto (melhores interações em grupo).
“O produto E‑mail da Locaweb será a solução de e‑mail mais completa e flexível do mercado brasileiro.”
Uma visão ambiciosa, com intenção clara de liderança e diferenciação.
A visão foi expressa por imagem, demonstrando uma plataforma que conecta pequenas empresas, contadores e serviços necessários, uma representação que facilita o entendimento por todos.
Também representada por imagem, essa visão mostra claramente como a plataforma ia além de um marketplace de academias, evidenciando trocas de valor entre usuários, parceiros e empresas.
Esses exemplos têm algo em comum:
Têm clareza — sabem quem são, o que resolvem e como isso se relaciona ao mercado;
Inspiram — são ambiciosos o suficiente para envolver times, clientes e parceiros;
Guiam decisões — funcionam como prisma para escolhas estratégicas, funcionalidade por funcionalidade.
Quando você tem uma visão assim — clara, inspiradora, relevante — fica muito mais fácil escolher a métrica North Star correta:
No Fun Retrospectives, pode ser o número de retrospectivas semanais.
No Email da Locaweb, número de contas, quantidade de mensagens enviadas e recebidas.
No Gympass, o volume de interações entre usuários e academias.
A métrica é o caminho escolhido para medir o progresso. Mas a visão é o horizonte que orienta toda a jornada.
A verdadeira North Star de um produto não é um número. É uma ideia clara e inspiradora do destino que queremos alcançar. É algo que suas equipes podem sentir, que seus stakeholders podem visualizar e que todos podem usar como bússola, mesmo em momentos de incerteza.
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