
A área de desenvolvimento de produtos é uma área só, com o objetivo comum de criar o melhor produto para atender aos objetivos estratégicos da empresa, enquanto resolve problemas e necessidades dos clientes. Ter duas ou mais lideranças para essa área requer bastante coordenação entre elas para garantir que os times estejam colaborando e evoluindo na mesma direção. A forma mais comum de dividir essa liderança é ter duas pessoas, CPO e CTO, para liderar o time de desenvolvimento de produtos. Enquanto o CPO lidera pessoas de produto e de UX, o CTO lidera as pessoas de engenharia.
Essa imagem ilustra bem as responsabilidades de cada liderança. O CTO cuida do desenvolvimento propriamente dito do produto, preocupando-se com a qualidade do que está sendo desenvolvido, bem como com a velocidade de desenvolvimento. Também cuida de questões de infraestrutura e operacionais, tais como a estabilidade, performance e disponibilidade do produto. O CPO cuida do produto tanto do ponto de vista do negócio quanto do ponto de vista do cliente. Do ponto de vista do negócio, é responsável por definir a visão de produto alinhada com os objetivos estratégicos do negócio. Do ponto de vista do cliente, é preciso garantir que o produto resolve um problema ou atende a uma necessidade do cliente, com qualidade e, para isso, é preciso entender a satisfação e o engajamento do cliente com o produto.
Em conjunto, CTO e CPO devem definir e evoluir a estrutura do time de desenvolvimento de produto, com times de produto e times estruturais (SRE, Data etc.), bem como definir e evoluir os processos que esse time usará no seu dia a dia.
Tanto na Locaweb quanto na Conta Azul, eu tive o papel de CPO, com a responsabilidade de liderar todo o time de desenvolvimento de produto, composto por pessoas gestoras de produto, product designers e de engenharia. Na Lopes, eu liderava todo o Lopes Labs, time de tecnologia e inovação que tinha pessoas de engenharia, de design, de produto e de marketing, uma vez que o marketing no mercado imobiliário é majoritariamente digital.
A liderança única funciona quando há pessoas sêniores para ajudar na gestão de engenharia, assim como na gestão de design e de produtos. Na Conta Azul, o time chegou a ter 130 pessoas e eu tinha 1 head de engenharia, 4 GPMs e 1 head de design para me ajudar. Na Locaweb, com um time de 100 pessoas, eu tinha 2 gerentes sêniores de engenharia, 5 PMs sêniores e 1 head de UX. Na Lopes, eu tinha um time de 120 pessoas, com 1 head de marketing, 6 GPMs e 1 gerente sênior de engenharia.
Gosto dessa configuração, pois sempre vi o time de desenvolvimento de produto como um único time, com objetivos comuns de entregar o melhor produto para atender aos objetivos da empresa, enquanto resolve problemas e necessidades dos usuários. Essa configuração ajuda no alinhamento e nessa visão de time único.
Esse tipo de configuração funciona muito bem para times pequenos, de até 80 a 100 pessoas. Quando chega a esse tamanho, existe o risco de sobrecarregar essa líder, única responsável por todo o time de desenvolvimento de produto. É uma infinidade de temas diferentes, daí a importância de ter pessoas seniores ajudando na liderança.
Em algumas empresas, em vez de CPO, essa liderança única é chamada de Chief Technical Officer (CTO) ou de vice-presidente de desenvolvimento de produtos.
Pode fazer sentido pensar em dividir a área em duas lideranças quando o time cresce para mais de 100 pessoas, tendo um CPO e um CTO compartilhando a liderança. Vale lembrar que a liderança compartilhada, apesar de ser benéfica no sentido de dividir responsabilidades, pode ter efeitos colaterais prejudiciais se não for bem gerenciada pelo CEO.
No Gympass, rodamos por 18 meses com um CTO e dois CPOs, sendo um de produtos para consumidores e eu focado em produtos para empresas e parceiros. Optamos por essa configuração porque prevíamos um crescimento considerável do time. Quando o time ainda tinha 60 pessoas, já vislumbrávamos um crescimento de até 400 pessoas. Poder dividir a responsabilidade, principalmente quando o time cresce rápido para números acima de 100 pessoas, ajuda a colocar mais atenção e a ir mais fundo nos temas de que cada líder cuida. Isso evita a sobrecarga que comentei anteriormente.

Estrutura de liderança de desenvolvimento de produtos no Gympass de agosto de 2018 a outubro de 2019
No Gympass, o time de UX reportava para o CPO de consumers enquanto eu tinha, além dos times de produto para empresas e parceiros, um time de Professional Services (PS), que era responsável por fazer as integrações customizadas com sistemas de academias e de sistemas de RH de nossos clientes. Esse trabalho de professional services é mais orientado a projetos, com definição clara de escopo e prazos bem definidos, por isso criamos uma área separada para cuidar dessas integrações.
Quando eu saí da Conta Azul, em meados de 2018, estávamos começando a pensar em dividir os papéis entre CTO e CPO. Tanto que, em 2020, a estrutura passou a liderar o time de desenvolvimento de produtos.
Outra possibilidade de liderança compartilhada de times de produto é ter head de engenharia, de produtos e de UX.
A liderança compartilhada tem por efeito colateral o risco inerente de criação de silos, que são os times trabalhando de forma isolada e sem a necessária colaboração. No Gympass, tínhamos uma preocupação forte de evitar esse comportamento. Sentávamos nós três, lado a lado, e reservávamos, no mínimo, 3 horas por semana para conversarmos sobre temas do time de desenvolvimento de produtos, sendo 1 hora entre nós três, 1 hora junto com o business partner de RH e 1 hora com o CEO. Além disso, buscávamos definir os objetivos de forma comum para os times e tratávamos o orçamento como um orçamento único da área de desenvolvimento de produtos.
Contudo, apesar de nossos esforços, ainda assim havia situações de falta de colaboração entre os membros de diferentes times. Por esse motivo, tenho preferência por configurações com liderança única de time de desenvolvimento de produtos, apesar da eventual sobrecarga que isso possa causar nessa liderança. Uma forma de diminuir essa sobrecarga é contar com líderes sêniores.
Esse artigo é mais um trecho do meu livro mais recente “Transformação digital e cultura de produto: Como colocar a tecnologia no centro da estratégia da sua empresa“, que vou também disponibilizar aqui no blog. Até o momento, já publiquei por aqui:
Ajudo empresas e lideranças (CPOs, heads de produto, CTOs, CEOs, tech founders e heads de transformação digital) a conectar negócios e tecnologia por meio de treinamentos e consultoria focados em gestão de produtos e transformação digital.
Na Gyaco, acreditamos no poder das conversas para promover reflexão e aprendizado. Por isso, temos três podcasts que exploram o universo de gestão de produtos por ângulos diferentes:
Você trabalha com produtos digitais? Quer aumentar as chances de sucesso do seu produto, resolver os problemas das usuárias e atingir os objetivos da empresa? Conheça meus livros, onde compartilho o que aprendi ao longo de mais de 30 anos criando e gerenciando produtos digitais:
