Ter métrica é bom. Métricas são essenciais para conhecer mais a fundo seu produto e para poder tomar decisões mais acertadas. Mas é preciso tomar cuidado. Métrica em excesso pode atrapalhar, pode ofuscar o seu conhecimento pleno do seu produto.
Em inglês, existem dois termos que podem explicar bem essa minha preocupação. O primeiro termo é data-driven. Quando se gerencia um produto de forma data-driven, você roda experimentos que geram dados que alimentam suas decisões sobre próximos experimentos. É simples assim, e parece ser uma excelente forma de se gerir um produto. Só que existem alguns problemas nessa abordagem:
Em função disso, em vez de data-driven, está cada vez mais claro que precisamos ser data-informed; em outras palavras, usar os dados como mais um insumo para as tomadas de decisão, e não como o único insumo. A experiência, a intuição, o julgamento e as informações qualitativas devem também ser levados em consideração, junto com as métricas, para aumentar a qualidade da tomada de decisão.
Acredito que um dos melhores exemplos que posso citar tem a ver com o produto de hospedagem de sites da Locaweb. Ao longo dos anos, de forma razoavelmente informada, mas contando sempre com bastante intuição, alteramos nossos planos de hospedagem para ter mais espaço em disco, transferência e quantidade de sites que poderiam ser hospedados em cada plano vendido. Em 2011, notamos que mais de 90% de nossos clientes escolhiam o plano mais básico, pois ele atendia a necessidade da maioria das pessoas que precisavam de um site.
Queríamos que os planos maiores tivessem uma participação maior nas vendas, mas, com os limites dos planos que tínhamos, não havia nenhuma motivação para os clientes os comprarem. Pensamos em mudar os planos para novas contratações, diminuindo os limites para incentivar os clientes a adquirirem planos maiores. Entretanto, como era uma mudança significativa e bastante sensível, trouxemos uma consultoria especializada em precificação, que nos ajudou a coletar e analisar vários dados, para sugerir qual a melhor mudança a ser feita.
Implementamos as mudanças sugeridas em 2012. Houve uma pequena variação na distribuição dos planos, mas a quantidade de planos contratados por mês não mudou. Aliás, chegou a cair um pouco, o que resultou em nenhuma alteração na quantidade de nova receita por mês. Ou seja, gastamos tempo e dinheiro coletando e analisando dados que nos fizeram tomar uma decisão que em nada mudou o resultado da empresa. Talvez se tivéssemos definido as mudanças de forma mais intuitiva, teríamos economizado dinheiro e saberíamos o resultado da decisão mais rapidamente.
Existem duas ótimas ferramentas para fazer testes A/B, o Visual Website Optimizer (http://visualwebsiteoptimizer.com) e o Optimizely (http://optimizely.com). Usei o serviço Visual Website Optimizer, que oferece um mês grátis, para testar algumas hipóteses sobre a home do ContaCal:
Em menos de 30 minutos, consegui criar 4 variações e comecei a rodar o teste. Resolvi testar duas coisas. Uma era se a cor do botão “criar conta” faz diferença na quantidade de pessoas que clicam nele:
E a outra era se, mudando o vídeo explicativo para uma foto ilustrativa, aumentava ou diminuía a quantidade de pessoas que clicam no botão “criar conta”:
O resultado foi:
Ao ver esse resultado, fiquei com a impressão de que, se eu colocasse botão verde com a imagem da família saudável, eu iria aumentar mais ainda a conversão. Resolvi, então, fazer esse teste e o resultado foi:
Por isso, tome cuidado, as aparências enganam! Faça experiências antes de tirar conclusões!
Por fim, além desses cuidados, é preciso tomar cuidado com o efeito analysis paralysis, ou seja, ficar o tempo todo analisando dados e não tomar nenhuma ação. Como bem ilustrado pela figura do xkcd.com (2014), a analysis paralysis pode custar bem caro:
As métricas não são a razão da existência de seu produto. Os usuários de seu produto, os problemas que ele resolve para esses usuários e os objetivos estratégicos da empresa que é dona do software são as razões de sua existência. Ou seja, métricas são um meio, e não o fim, o resultado e o objetivo. Por isso, use-as como mais uma das ferramentas que você tem à sua disposição para ajudá-lo a guiar seu produto na direção certa.
No próximo capítulo vou falar sobre o que é e para que serve a visão e a estratégia do produto, ferramentas úteis para as tomadas de decisão sobre qual será o futuro do seu produto.
Tenho ajudado líderes de produto (CPOs, heads de produtos, CTOs, CEOs, tech founders) a extrair mais valor e resultados de seus produtos digitais. Veja aqui como posso ajudar você e a sua empresa.
Este artigo é mais um capítulo do meu livro Gestão de produtos: Como aumentar as chances de sucesso do seu software, onde falo sobre o que é gestão de produtos digitais, seu ciclo de vida, que ferramentas utilizar para aumentar suas chances de sucesso. Você também pode se interessar pelos meus outros dois livros: