Tenho apresentado os “Equívocos do Discovery” em conferências de produto e em apresentações in-company em minhas clientes para ajudá-las a fazer o discovery de produto mais efetivo. Nessa talk falo sobre os 4 equívocos mais comuns que vejo times de produto cometerem:
Revisando meus artigos vi que não escrevi sobre o equívoco #4, então aqui vai!
Em um cenário onde o “foco na entrega” costuma ser exaltado como principal indicador de sucesso, é fácil cair na armadilha de acreditar que o trabalho da engenharia se resume a transformar requisitos em código. Contudo, essa visão é limitada e pode frear a inovação. Ao entendermos que a engenharia é uma peça fundamental no processo de discovery, percebemos que seu papel vai muito além de “entregar” um produto pronto, trata-se de descobrir, testar e validar soluções, em conjunto com as áreas de Design e Produto.
A crença de que a engenharia deve concentrar-se apenas na entrega é comum em ambientes onde a pressão por resultados imediatos sobrepõe a necessidade de pensar profundamente na solução. Essa visão estreita ignora que, ao focar unicamente na execução, a equipe tende a repetir os mesmos padrões, sem explorar alternativas capazes de gerar resultados mais robustos e inovadores. Reduzir a engenharia a um mero executor impede que ela exerça sua expertise técnica desde o início, criando um ciclo de “entregar e corrigir” que raramente conduz à solução ideal.
Essa separação em que Design e Produtos foca em discovery enquanto Engenharia foca em Delivery vem dessa imagem:
Apesar de chamarmos de o trio essencial de um time de produto, com Design, Produtos e Engenharia, separamos suas responsabilidades com Design e Produto focados em discovery e Engenharia em delivery. Acontece que o foco de Design e Produto acaba ficando centrado no problema, em entender mais sobre o problema, sobre quem tem esse problema e qual a motivação para resolver esse problema. Aí surge uma ideia de solução que rapidamente é transformada em protótipo e requisitos que são passados para Engenharia fazer o Delivery.
Quando a engenharia é vista como parte integrante do discovery, ela se torna uma aliada estratégica na identificação e validação de hipóteses de solução. Em vez de esperar que as decisões estejam pré-definidas por Produto ou Design, as engenheiras podem contribuir com insights técnicos sobre novas abordagens possíveis graças à avanços tecnológicos e quais abordagens são viáveis e escaláveis
O verdadeiro ponto de mágica no processo de discovery acontece no Solution Discovery, quando Produto, Design e Engenharia trabalham juntos. Não basta apenas Produto e Design discutirem hipóteses e depois passarem para a engenharia como uma tarefa. A engenharia precisa estar envolvida desde o começo, trazendo a visão técnica, explorando possibilidades e, muitas vezes, propondo as soluções mais inovadoras.
O maior valor gerado pela Engenharia não está no delivery. Está no solution discovery. É nesse espaço de cocriação entre Produto, Design e Engenharia que surgem as soluções mais inovadoras, e é exatamente aí que a Engenharia precisa estar desde o início.
Discovery de solução é a parte mais divertido do trabalho do time de desenvolvimento de produto e, como mostrado na figura acima, deve ter participação igual de pessoas de Produto, Design e Engenharia. Não é necessário que todas as pessoas do time de Engenharia participem, mas importante ter pelo menos uma ou duas pessoas engenheiras junto com Produtos e Design criando e avaliando hipóteses de solução.
Esse ponto fica claro com o exemplo do desenvolvimento do app para corretores na Lopes. Quando cheguei, o app estava sendo tratado como um “MVP”, mas já havia sete meses de desenvolvimento, algo que não condiz com o conceito de um MVP. Um MVP que já estava em desenvolvimento há sete meses, e que levaria um ano para ser entregue, perde totalmente o “M” de mínimo e o “V” de viável. A equipe passou cinco meses no discovery, expandindo o escopo ao identificar as diversas ações que o corretor precisava realizar, como:
Essas funcionalidades, embora úteis, desviaram o foco do problema central: garantir que o corretor recebesse o lead rapidamente para aumentar as chances de conversão. Esse foco diluído levou a um MVP que deveria levar um ano para ser entregue. A situação só mudou quando a engenharia fez uma pergunta fundamental: “Por que precisamos fazer um app para isso?”
A solução proposta pela engenharia foi simples e eficaz: em vez de um app complexo, eles sugeriram enviar notificações via SMS. Em apenas 10 dias, a solução foi implementada, permitindo que os corretores recebessem os leads instantaneamente. O que parecia ser um projeto de um ano foi resolvido em dias, graças à visão estratégica da engenharia durante o discovery.
Esse exemplo mostra como a engenharia é mais do que um agente de execução. Ela tem o poder de contribuir com soluções criativas e eficientes, antecipar riscos técnicos e evitar longos ciclos de desenvolvimento. Quando envolvemos a engenharia desde o início, conseguimos:
Engenharia não deve ser vista apenas como responsável por entregar o que foi decidido por outros. Quando trabalhamos juntos, Produto, Design e Engenharia, fazemos um discovery mais poderoso e eficiente, focado em encontrar soluções viáveis e escaláveis que realmente geram impacto.
O verdadeiro valor da Engenharia está em sua capacidade de contribuir para o Solution Discovery e propor soluções que muitas vezes passam despercebidas por Produto e Design. Ao abandonar a visão limitada de “engenharia como entrega” e adotarmos uma abordagem colaborativa, conseguimos transformar desafios complexos em oportunidades reais de sucesso.
O exemplo da Lopes é só um entre muitos. Quando deixamos de tratar discovery e delivery como processos separados e passamos a encará-los como uma colaboração contínua, desbloqueamos o verdadeiro potencial das equipes de produto e, especialmente, da Engenharia.
Para quem tiver curiosidade de ver a talk sobre “Os Equívocos do Discovery”, ela está disponível aqui:
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