Esse é o quarto artigo da série que estou escrevendo sobre IA e gestão de produtos. Aqui estão os artigos anteriores:
Hoje vamos falar sobre a febre das interfaces conversacionais.
Desde o avanço da IA generativa, muita gente passou a acreditar que o futuro das interfaces seria conversacional, que tudo deveria funcionar como um chat. Mas conversar nem sempre é a forma mais natural, eficiente ou prazerosa de interagir com um produto digital.
Conversar com uma máquina pode parecer intuitivo, mas só até certo ponto. Quando a tarefa é bem estruturada, repetitiva ou requer comparações visuais, uma boa interface gráfica continua sendo mais rápida, previsível e satisfatória.
Outro dia ouvi de uma equipe de dados que tinha criado um sistema de relatórios com interface conversacional. No começo, foi um sucesso. Mas, depois de um tempo, as pessoas simplesmente pararam de usar. Quando trocaram o chat por uma interface mais tradicional, com botões e filtros, o uso voltou a crescer.
No Politiq.ai, novo produto da Inteligov, empresa da qual faço parte do conselho consultivo, o Raphael Caldas — fundador e CEO — relatou algo parecido:
A ferramenta tinha um chat com oito funções — buscar notícias, redigir projetos de lei, gerar insights sobre audiências públicas, entre outras. A qualidade do prompt impactava muito o resultado. Depois que substituímos o chat por uma interface mais guiada, a experiência e o uso melhoraram significativamente.
Agora, em vez de digitar longas instruções, a pessoa simplesmente escolhe o que quer fazer: para ver o perfil de um parlamentar, clica na opção e digita o nome; para obter insights de uma audiência pública, cola o link do YouTube. Tudo ficou mais direto e fácil de usar.
Esses exemplos mostram que a melhor interface não é a mais moderna, e sim a que reduz atrito.
Conversar é natural entre pessoas, mas nem sempre é a melhor metáfora para interagir com sistemas. Em muitos casos, o excesso de liberdade do chat se transforma em incerteza, enquanto uma interface bem projetada oferece clareza e controle.
Isso não significa que interfaces conversacionais não tenham seu lugar. Elas brilham em contextos em que flexibilidade, ambiguidade ou exploração são partes essenciais da experiência — como quando a pessoa não sabe exatamente o que está procurando, quando o espaço de possibilidades é amplo demais para opções pré-definidas ou quando criatividade e iteração são componentes cruciais da tarefa.
Nesses casos, a conversa pode ser a forma mais rápida de começar, aprender ou cocriar. Ainda assim, mesmo nessas situações, as melhores experiências costumam combinar os dois mundos: uma camada conversacional para expressar a intenção e elementos estruturados — como botões, menus ou resumos visuais — para transformar essa intenção em ação.
Assim como nem toda funcionalidade precisa ter IA e nem toda IA precisa ser generativa, nem toda interface precisa ser conversacional. A escolha da forma de interação deve servir ao contexto e ao objetivo da cliente, não ao hype da tecnologia.
No próximo e último artigo da série sobre “IA e gestão de produto“, vamos ver a diferença entre AI-first e AI-native.
Ajudo empresas e lideranças (CPOs, heads de produto, CTOs, CEOs, tech founders e heads de transformação digital) a conectar negócios e tecnologia por meio de treinamentos e consultoria focados em gestão de produtos e transformação digital.
Na Gyaco, acreditamos no poder das conversas para provocar reflexão e aprendizado. Por isso, temos três podcasts que exploram o universo de gestão de produtos por ângulos diferentes:
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